quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Parte V de V

01 de Setembro de 1901
Windsor, Inglaterra



Srta. Watson

Pedimos a senhorita que compareça ao Hospital Psiquiátrico de Windsor. Um de nossos pacientes, Gael Smith, foi encontrado morto e em uma de suas mãos estava uma carta de sua autoria. Sei que a senhorita não é da família e tão pouco chegou a conhecê-lo, mas é que desde que ele chegou aqui, há dez anos, você foi o seu único contato, quer dizer há dois anos tinha uma de nossas pacientes Luni de Clair, não sei bem como era a relação dos dois, pois ela acreditava ser um pássaro, porém a família da moça a retirou do hospital, afirmavam que com Gael ao seu lado ela estava piorando, eu cheguei dizer que era ao contrário os dois apresentavam uma melhora significativa, mas eles não quiseram me ouvir e depois disso o quadro de Gael nunca mais houve melhoras. Ele chegou aqui trazido pela família dizendo ser do futuro, seu nome era Henry, foi à última vez que ele os viu, depois disso ele só esperou o tempo passar, até ontem quando nós o encontramos encostado em uma árvore do nosso jardim de lírios, em frente ao lago, o curioso é que os seus olhos ainda estavam abertos, olhando fixamente para as águas do lago, como se estivesse olhando quase que para um espelho, seu coração havia parado e não podíamos fazer mais nada. A senhorita me perdoe, mas eu li sua carta, por isso resolvi lhe contar o que se passava com Gael, se não quiser vir até aqui não será necessário, mas sabe quando o encontramos havia um bilhete em sua mão, porém todo borrado, mesmo assim conseguimos ver o seu endereço contido nele e uma última frase: P.S. Os pássaros foram embora.

Sentimos muito pelo fim

Sr. Collin diretor do HPW


(Lucas Ribas)


terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Parte IV de V

26 de Agosto de 1901
Windsor, Inglaterra
Alinhar à direita





Caro Sr. Henry

Desculpa ter feito esperar durante tanto tempo, estava fazendo uma viagem, conhecendo o mundo inteiro. Peço desculpas também por não ser Luni, creio que as tenha enviado para o endereço errado. Há dois meses cheguei de viagem e tenho lido todas suas cartas desde então. Fiquei curiosa para conhecer quem é a mulher a qual o senhor escreve de maneira intensa, fui procurá-la, porém as noticias não são boas, em todo o condado de Berkshire não se ouve falar em qualquer Luni. Se me permite dizer fiquei com inveja dessa moça, por ser tão amada, suas palavras são tão doces, quis também poder ver os pássaros, ouvir seu canto, respirando o perfume dos lírios. Queria poder encontrá-lo para devolver todas suas cartas, para que as entregue para pessoa certa. Mais uma vez peço desculpa. Sabe ás vezes amamos tanto que não prestamos atenção o quanto é maravilhoso o mundo a nossa volta, não se prenda em seu cubo branco, sempre haverá flores em outros jardins e os pássaros podem cantar a canção que você quiser.



Com amor da Sta. Linda Watson

P.S. Creio que o senhor errou nas datas, mas isso é só um detalhe, espero que possamos nos ver o quanto antes.

Parte III de V

18 de Julho de 2008
Windsor, Inglaterra



Luni...


Já não consigo nem te chamar de querida, a saudade que eu sinto me destruiu e você não fez nada. Eu tenho me ocupado ao máximo, tenho evitado até mesmo dormir pra ver se te esqueço. Acho que nunca me machuquei tanto e nunca chorei tanto também. Eu estou dando o meu melhor para não lembrar mais dos momentos que fui feliz com você, já não consigo saber se te odeio, ou se te amo demais. Ontem a dor foi tão forte que cheguei a desmaiar e durante o tempo que fiquei desacordado sonhei com você, depois o pesadelo, aquele ciclo de sempre. Essa será minha última carta, não por escolha, mas por medo que essa sensação de perda fique para sempre. Para sempre. Não era essa a nossa promessa? Então onde você foi parar? Não acredito mais em amor. Li pela ultima vez o bilhete que me deixou quando foi embora e decidir te deixar ir. Mas eu ainda não consigo deixar de sentir sua falta. Mandei tirar todos os lírios da casa, pintei todas as paredes do meu quarto de branco, tirei móveis, retratos, tudo que me faz pensar em você. Agora estou preso em um cubo branco, em que só existe eu e minha solidão e não vou até você, nem mesmo quando me chamar. Cada vez mais longe, cada vez mais.


Acho que até nunca.


Henry


P.S. Os pássaros já não cantam, mas eles continuam aqui me protegendo.

Parte II de V

21 de abril de 2007
Windsor, Inglaterra



Querida Luni...

Tenho notado que você parou de responder minhas cartas, nem ao menos se da o trabalho de aparecer quando combinamos, tenho medo que isso se torne continuo, sem respostas, sem visitas, sem você, pois eu só escrevo quando estou desesperado e ultimamente ando escrevendo muito. Já não sei se suporto essa dor. Você já sentiu? Ela é horrível parece que alguém aperta seu coração tão forte que ele começa a sangrar, o ar parece não passar pelo caminho certo, começa os calafrios e uma contração forte no estômago causando quase que uma, uma... Como é que se diz mesmo? Aquela sensação de que tudo dentro de você começa a queimar? Ah...Lembrei! Azia. Você tinha todas as explicações, agora sem você eu tenho que deduzir. De vez em quando eu até consigo, quando não, eu tento inventar qualquer palavra que eu acho bonita. E essas lágrimas que não param de cair? Daqui a pouco elas vão borrar a carta e os papéis estão acabando e quando eles terminarem não escreverei mais. Estou melhorando aos poucos, na verdade, penso que as pessoas ao meu redor é que estão meio loucas. Hoje de manhã quando eu passeava pelo jardim escutei os empregados comentando algo sobre você não existir. Não existir? É porque eles não conheceram os seus beijos, seus olhos, seus abraços. Penso que talvez só aqueles que já a sentiram como eu senti, sabem o que é o amor e também o ódio. O ódio por te amar, por deixar-se levar por alguém que nem se quer lembra o seu nome, por sentir sua falta todos os dias, por estar esquecendo o seu rosto pouco a pouco cada dia mais. Desculpe, mas não vou aparecer ao nosso encontro de amanhã, tenho um compromisso inadiável.

Até breve

Do seu eterno Henry

P.S Os pássaros cantam cada vez mais fraco, eles estão sentindo sua falta tanto quanto eu.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Parte I de V

23 de Dezembro de 2006
Windsor, Inglaterra


Querida Luni...

Por aqui está a mesma coisa dos últimos dez anos, o céu tão azul, os lírios em volta da casa, sol de tarde e chuva à noite, penso que por aí não deve estar diferente, eu ouvi no noticiário do almoço sobre o clima daí e também tem, tem os... Nada esquece. Sabe eu tenho ficado louco, todo dia, cada vez mais. Sinto sua falta e sinto tanto que ás vezes esqueço como se faz para parar de chorar. Sempre estivemos longe e essa distancia só aumenta, antes ao menos de vez em quando eu tinha você ao meu lado, agora eu só posso pensar em você. E eu tenho feito isso com frequência, na verdade acho que desde a última vez que conversamos é a única coisa que faço. Ontem eu tive a certeza de ter te visto enquanto eu me olhava no espelho, então fiquei ali, parado, o tempo todo pra ver se te via mais um pouco, mas não vi, apenas consegui sentir o seu cheiro que nunca saí de mim. Aquele que só você tem, não do perfume, mas aquele que só o seu corpo tem, quer dizer agora o meu também. Acho que nunca vou esquecer a imagem dos seus olhos me seguindo no momento eu ia embora, então veio à curva e com ela mais nada de você por tempo indeterminado. Droga! E essa saudade que não passa? Juro que tentei de tudo remédios, bebidas e até mesmo droga, mas o efeito é temporário, ela sempre volta e você não. Sonhar já não adianta também, sempre acabo caindo num pesadelo. Tenho mentido pra mim mesmo, dizendo que mais tarde vou te encontrar, algumas vezes eu acredito e vou te procurar. É o que eu estou fazendo agora e faltam só alguns minutos pra hora marcada, então eu tenho que ir.

Até breve.

Do seu eterno Henry

P.S. Naquela parte borrada eram sobre os pássaros que ia falar, são eles que ainda estão aqui e eles também sente a sua falta.

sábado, 18 de dezembro de 2010

...

"Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não foram comigo.
Meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas tentativas de aproximação. Tenho vergonha de gritar que esta dor é só minha, de pedir que me deixem em paz e só com ela, como um cão com seu osso.
A única magia que existe é estarmos vivos e não entendermos nada disso.
A única magia que existe é a nossa incompreensão."
Caio Fernando Abreu

Até mais, por aí...Na vida

Um dia amamos. Um dia acreditamos. Um dia pedimos para que tudo fosse verdade. Um dia, talvez.

As luzes apagaram, meus olhos se fecharam e de repente uma alegria que talvez antes nunca existiu, eu estava feliz. Então essa felicidade se transformou em pensamentos, depois lembranças, o inconsciente pra enfim se tornar um sonho. Dava pra ouvir uma voz conhecida, o lugar era no meio do nada, mas mesmo assim era perfeito e a voz cada vez mais perto até descobrir que era você, sorri. Veio uma música, primeiro o piano, depois, depois, depois eu fiquei confuso, sabe naquele exato momento em que tudo se mistura e você já não lembra onde tudo começou, em que sonho se transforma em pesadelo. Eu estava perdido, eu havia perdido algo que eu não sabia, eu era acostumado a fazer isso, mas eu tive medo. Foi quando acordei meio assustado e isso se repetia toda noite até eu decidir perguntar àquela voz o que eu deveria fazer para parar esse ciclo e ela apenas me disse que queria me fazer feliz sempre, não só enquanto eu dormia e que eu não precisava ter medo, pois o que eu perdi não era importante. E até hoje eu ando por aí, sonhando.


Continue sonhando comigo e até mais, naquilo que insistem em chamar de real.



Eu sinto sua falta, mesmo sabendo que ao acordar vou te ter ao meu lado, mas eu sinto


(Lucas Ribas)

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